Whiskey Americano

Depois da Escócia, os Estados Unidos são os produtores mais importantes de whisky, e com o maior número de destilarias em funcionamento. A bebida chegou ao país no século XVIII, levando na maioria dos casos a grafia “whiskey”, com a onda de imigrantes irlandeses e escoceses, que detinham a técnica de transformar os seus excedentes da colheita de grãos em destilados. Quem se estabeleceu em Maryland e na Pennsylvania produzia, inicialmente, whiskey de centeio (rye whiskey). Já os que se fixaram em Kentucky passaram a produzir o destilado a partir do milho, que originou, posteriormente, o tão famoso whiskey Bourbon americano.

Whiskies de vários tipos são produzidos nos EUA, incluídos Single Malts, que muitos pensam ser exclusivos da Escócia. Mas o lugar de destaque fica mesmo com o Bourbon, que é a marca registrada da indústria de whiskey americana. Alguns chegam até a pensar, equivocadamente, que todo o whiskey vindo do mercado americano seja do tipo Bourbon.

O nome Bourbon vem de um condado em Kentucky estabelecido em 1785, quando o estado ainda fazia parte da Virgínia. Como os barris provenientes desse condado carregavam estampado o nome “Bourbon County”, o termo “Bourbon” logo se popularizou, virando sinônimo para whiskey. Algumas fontes históricas atribuem ao Reverendo Elijah Craig a invenção do Bourbon, a partir dos seus experimentos com barris tostados usados na maturação de whiskey em sua destilaria, criada em 1789. Na realidade, Bourbon foi e é uma bebida que se vem aperfeiçoando com o tempo, fruto da engenhosidade de distintos produtores.

Há muitos mitos quanto à definição do que seja whisky Bourbon, como “Bourbon só é produzido no estado de Kentucky”, ou “Bourbon tem de ser envelhecido por no mínimo 2 anos, em barris de carvalho americano”. Para desmitificar um pouco esses equívocos, vejamos as regras americanas estabelecidas no Code of Federal Regulations, title 27, part 5, subpart C, que definem Bourbon como:

i) o destilado produzido nos EUA, e que sai dos destiladores com o máximo de 80% ABV;
ii) feito com ao menos 51% de milho;
iii) o destilado que vai para os barris tostados (charred) e virgens de carvalho com o máximo de 62.5% ABV (normalmente diluído com água, para que se alcance essa quantidade limite de álcool);
iv) engarrafado com no mínimo 40% ABV.

Os Bourbons que atendem à regra acima, e que são envelhecidos por no mínimo dois anos em barris tostados e virgens de carvalho, recebem o nome de Straight Bourbon Whiskey. Ninguém sabe muito bem por que se decidiu adotar a nomenclatura “straight”, para indicar o whiskey envelhecido por no mínimo dois anos.

Assim, ressaltamos que, ao contrário do que muitos pensam, Bourbon não necessita nem ser envelhecido por no mínimo dois anos nem, tampouco, ser envelhecido em barris de carvalho americano; basta que os barris sejam de carvalho, tostados (charred) e virgens.

Tennessee é outro tipo de whiskey genuinamente americano, e tem no Jack Daniel’s o seu maior expoente. De fato, Jack Daniel’s é umas das marcas de whiskey mais comercializadas e populares do mundo. Quem nunca tomou um “Jack and Coke” na juventude?

Tennessee whiskey, como o próprio nome já indica, é o whiskey produzido apenas no estado americano do Tennessee. Apesar de não haver legislação que determine como deva ser o processo de fabricação dos Tennessee whiskies, a produção deles se assemelha à dos Bourbons. A diferença básica reside, então, no processo de filtragem chamado Lincoln County, ou Charcoal Mellow, que consiste em filtrar o destilado em uma coluna de carvão de maple tree antes de sua colocação em barris de carvalho para o envelhecimento, como é o caso dos whiskies Jack Daniel’s e George Dickel. Entretanto, nem todos os produtores de Tennessee whiskies usam esse processo de filtragem.

Filtros de carvão de maple tree, pelo qual cada gota do Jack Daniel's passará, de forma a retirar impurezas e deixar o whisky mais suave

Filtros de carvão de maple tree, pelo qual cada gota do Jack Daniel's passará, de forma a retirar impurezas e deixar o whisky mais suave

Nada impede de classificarmos e enquadrarmos os Tennessee whiskies como whiskies do tipo Bourbon, já que esses últimos podem também usar o processo de Charcoal Mellow descrito anteriormente. Na prática, porém, os fabricantes dos Tennessee whiskies preferem diferenciar-se, e promover seus whiskies como uma categoria separada de whiskey americano.

Diversos outros tipos de whiskies americanos são produzidos a partir de outros grãos, como: rye whiskey (whiskey de centeio), wheat whiskey (whiskey de trigo), corn whiskey (whiskey de milho), malt whiskey (whiskey de malte) e rye malt whiskey (whiskey de centeio maltado). As regras para produção desses whiskies são idênticas às da produção de Bourbon. Rye whiskey, por exemplo, é:

i) o destilado produzido nos EUA e que sai dos destiladores com o máximo de 80% ABV;
ii) feito com ao menos 51% de centeio;
iii) o destilado que vai para os barris tostados e virgens de carvalho com o máximo de 62.5% ABV (normalmente diluído com água, para que se alcance essa quantidade limite de álcool);
iv) engarrafado com no mínimo 40% ABV.

A diferença estará, apenas, na proporção de 51% do grão de base usado na produção do destilado, com exceção do corn whiskey (whiskey de milho), que utiliza barris usados e não tostados para seu envelhecimento.

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