Islay, a Ilha do Whisky — Parte I

Por Alexandre Campos

Islay (pronúncia “ai-lá”) é uma pitoresca e convidativa ilha situada na costa oeste da Escócia, na altura de Glasgow. Dona de uma paisagem única, a ilha apresenta uma atmosfera bucólica aos seus 3.500 habitantes, e tem os campos de golfe entre seus principais atrativos. Mas para aqueles que não apreciam o nobre esporte, Islay oferece algo ainda mais especial. A ilha abriga sete das principais destilarias de whisky da Escócia.

Os maltes de Islay, com seu peculiar sabor de turfa queimada, ganharam prestígio e um status “cult” por admiradores do mundo inteiro. Todo apreciador sério de Single Malt whisky tem ao menos um de Islay entre seus preferidos — o meu é o Lagavulin. E não é por menos. Frequentemente os Single Malts de Islay atingem notas altíssimas em degustações conduzidas por whisky connoaisseurs de todo o mundo.

Como seguidor do culto ao bom malte, minha peregrinação por Islay começou em uma manhã de sábado, dia 28 de agosto de 2010. No aeroporto me esperava o taxista Mr. Lamont Campbell, que ao ver minha câmera fotográfica logo perguntou se aquela era uma visita jornalística. Respondi que meu negócio não eram as letras, e que as únicas que me levaram até ali eram as dos rótulos das garrafas de whisky… Para minha surpresa, Lamont revelou: “gosto mais de vinhos, mas de vez em quando aprecio uns whiskies Blended, que são mais suaves que os Single Malts”. Segui conversando com meu novo amigo sobre o Brasil e a Escócia, enquanto apreciava a paisagem pela janela até chegarmos à Ardbeg.

Ardbeg — A primeira parada em Islay

 

A destilaria, fundada em 1815, passou por várias crises e chegou a fechar em algumas ocasiões. Minha guia por lá foi Bryony MacIntyre, uma jovem estudante de Engenharia Química de Glasgow que, apesar da pouca idade, sabe tudo sobre as técnicas de destilação e fermentação, fazendo jus a sua faculdade. A jovem disse que reserva os verões para o trabalho na destilaria, da qual o pai, Ruaraidh MacIntyre, é “stillman”. Ou seja, é Ruaraudh quem opera os destiladores da Ardbeg, uma das principais funções dentro de uma destilaria de whisky. Nesse clima familiar, Bryony revela: “boa parte da minha família trabalha ou trabalhou na Ardberg ou em alguma das destilarias de Islay”. A jovem é atualmente embaixadora da destilaria na Escandinávia.

Bryony me explicou que a Ardbeg esteve fechada de 1981 a 1989 (duros tempos os de “80″, e década perdida na América Latina). Em 1997, foi comprada pela Glenmorangie Plc, a famosa destilaria nas Highlands que pertence atualmente ao grupo francês Louis Vuitton Moet Hennessey (LVMH). Mesmo passando por tantas provas, a Ardbeg segue em funcionamento, produzindo um dos maltes mais saborosos e enfumaçados de toda a Escócia. O malte da Ardbeg contém 55ppm de fenóis, medida acima da média de 35ppm de fenóis das outras destilarias de Islay. Ao final de minha visita tive o enorme prazer de saborear com Bryony várias edições dos Single Malts da Ardbeg. A menina não só entende de whisky, como também aprecia a bebida.

Uma estante repleta de preciosidades

 

Meu passeio pela Ardbeg havia chegado ao fim. Diante da possibiliadade de chuva, a funcionária do centro de visitação, Emma McGeachy,  gentilmente me ofereceu um carro da própria destilaria para que me levasse à próxima parada: Laphroaig. Durante minha estada em Islay, pude comprovar que a boa vontade dos seus habitantes é tão comum como as mudanças de clima naquela região. Sentia-me em casa com tamanha hospitalidade…

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5 respostas a Islay, a Ilha do Whisky — Parte I

  1. Keizo Dan Fukuyama disse:

    Finalmente tive o prazer de degustar o Ardbeg Ten, e como você mesmo disse, realmente é espetacular. Forte enfumaçado de fogueira, notas levemente doces e um final agradavelmente prolongado! Ainda “preciso” experimentar o Uigeadail… ;)

    Aproveitando, notei uma coisa navegando na internet e me corrija se estiver errado. Cada vez mais os Single Malt Whiskies não só de Islay, como no geral, estão sendo mais procurados, ficando mais raros e caros?
    E destilarias estão criando versões jovens sem data definida para atender a alta demanda, e muitas vezes visando colecionadores? (SuperNova seria um exemplo?) Isso me preocupa, e me faz pensar em: “Se encontrar um ótimo Whisky, compre de preferência dois, que não se sabe quando o encontrará de novo”, risos.

    • Single Malt Brasil disse:

      Oi Keizo,

      Realmente existe uma pressão grande em cima das destilarias de Single Malt. A capacidade de produção é limitada, já que a destilação se dá em alambiques (pot stills), mas a demanda vem crescendo rapidamente nos últimos anos, principalmente de países como Brasil, Índia, China e Rússia.
      Já estou vendo há algum tempo esse movimento de expressões sem idades definidas. E não só em Single Malts, como também em Blendeds. A Johnnie Walker, por exemplo, acabou de lançar 2 novos whiskies sem idades definidas: Double Black e o novo Gold Label.
      O fato é que as destilarias estão ficando sem barris mais velhos.

      Abraços,
      Alexandre.

  2. Kdfukuyama disse:

    Começar a sua jornada à Islay visitando a destilaria Ardbeg deve ter sido maravilhoso! Tenho muita vontade de experimentar esta iguaria, em especial o Uigeadail. Que pelos comentários, existe a perfeita combinação entre a forte Turfa e o doce Xerez.
    Mal posso esperar de um dia poder prová-lo. E quem sabe até, na própria destilaria como você provavelmente deve ter degustado!

    • Single Malt Brasil disse:

      Olá Keizo,
      Realmente a viagem foi interessante e fascinante. Mas Islay não tem atrativos além de campos de golfe e destilarias de whisky. E um pouco monótono para quem não curte alguma das duas coisas.
      Uigeadail é interessante, apesar de eu não ser muito fã da combinação muita turfa e Jerez. Um malte que me surpreendeu muito foi o Rollercoaster.
      O Ardbeg 10 anos tambem é espetacular.
      No próximo post estaremos falando da Laphroaig e da Lagavulin.
      Abraços,
      Alexandre.

      • Kdfukuyama disse:

        Olá Alexandre,

        É bom saber que você acha o Ardbeg Ten espetacular. Consegui pedir este e virá na semana que vem. Espero que não seja tão medicinal quanto o Laphroaig Quarter Cask, que não agradou muito meu paladar. Como diria Michael Jackson, “love it or Hate it”, risos. Mas pretendo travar mais algumas lutas com essa bebida tão intrigante :)

        Aguardo seus posts sobre a Laphroaig e Lagavulin. E quem sabe até, sobre a BruichLaddich e Caol Ila.

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